É Tudo Verdade: 10 Dicas Imperdíveis Para o Festival*

7.4.10 | comentários: 0

Se você estiver no Rio ou em São Paulo entre os dias 8 e 18 de abril não deixe de conferir o 15º Festival Internacional de Documentários mais conhecido como festival É tudo verdade, que este ano vem recheado de filmes incríveis em sessões totalmente gratuitas. Ao todo serão exibidos 71 documentários de curta, média e longa-metragem, vindos de 27 países diferentes sobre os mais diversos temas.

Seguem 10 dicas de filmes imperdíveis que merecem ser vistos!

Programa Casé – O Que a Gente Não Inventa, Não Existe, de Estevão Ciavatta (RJ, 80 min)
A extraordinária trajetória de Adhemar Casé (1902-1993), um vendedor de rádio que fez história no rádio, na TV e na publicidade brasileira, lançando nomes como Noel Rosa, Carmem Miranda e Orlando Silva. Esse é um documentário leve e descontraído, com muitas imagens de arquivo raríssimas sobre um dos maiores nomes do entretenimento nacional.

Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira (MG, 89 min)
Pedro de Alexina, 82, conduz, como mestre de cerimônias, o funeral de João-Batista, morto aos 120 anos. Ali, não se sabe o que é documentário ou ficção, cinema ou vida. É um filme sobre a morte, mas está longe de ser depressivo. Vale a pena para conhecer essa cultura completamente diferente que esses brasileiros vivem.

Sobre Rios e Córregos, de Camilo Tavares (SP, 60 min)
Assentada sobre cerca de 1.500 km de rios e córregos, a cidade de São Paulo transformou-se num caso peculiar de transformação da água – tanto em solução quanto em problema. Através de depoimentos de especialistas analisa-se o histórico de uma convivência conflituosa, marcada por canalizações, desvios de curso de rios, especulação imobiliária e habitação irregular. Engraçado e informativo. É um filme simples, mas que chama a atenção para um assunto sério.

Uma noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil (RJ, 93 min)
A final do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 21 de outubro de 1967, prometia. Resgatando imagens de arquivo, com a apresentação de músicas como “Roda Viva”, “Alegria Alegria”, “Domingo no Parque” e “Ponteio”, o filme registra a explosão do tropicalismo, a radicalização de rachas artísticos e políticos em plena ditadura militar e a consagração de nomes que se tornaram ídolos até hoje no panorama musical brasileiro. Faz, assim, o balanço de uma época efervescente e da qualidade da geração que a liderou. Para qualquer fã de MPB esse filme é totalmente imperdível. As imagens de arquivo com cenas da final do Festival daquele ano são excelentes e te fazem cantar e torcer junto com o público presente.

La Danse, o Balé da Ópera de Paris, de Frederick Wiseman (França / Estados Unidos, 159 min)
O diretor volta seu olhar para o Balé da Ópera de Paris, uma das grandes companhias de dança do mundo. Percorreu com sua câmera os corredores e salas de ensaio do Palácio Garnier, a sede do balé e registrou detalhes do esforço físico dos bailarinos para o domínio das coreografias. Também são vistos fragmentos de espetáculos, como A Casa de Bernarda Alba, de Mats Ek, e Orfeu e Eurídice, de Pina Bausch. Um filme longo, que não é para todos os gostos, mas é perfeito ao retratar o dia-a-dia de uma das companhias de dança mais famosas do mundo. Fora que as coreografias apresentadas no filme são fantásticas.

Roubados, de Dan Fallshaw e Violeta Ayala (Austrália, 78 min)
No momento em que procuram realizar um filme sobre a reunião de famílias dispersas por guerras, organizada pela ONU entre os refugiados do território do Saara Ocidental, os cineastas Violeta Ayala e Dan Fallshaw descobrem-se repentinamente no centro de um turbilhão. Um filme polêmico que surpreende no início, choca no seu desenvolvimento e revolta em seu desfecho.

Viver com o Homicídio, de John Kastner (Canadá, 94 min)
Jennifer, uma garota de 18 anos, foi brutalmente assassinada em uma pacata comunidade do Canadá pelo seu irmão, Mason. Condenado à prisão perpétua, o jovem é regularmente visitado pelos pais que não ignoram os indícios de que poderiam ter sido igualmente mortos pelo filho. Todos falam sobre o crime compondo um intrigante mosaico sobre os mistérios da mente humana. Outro filme chocante e revoltante nos faz pensar sobre as relações humanas. Não vou dizer que ele mudou minha vida, mas me fez pensar muito sobre ela.

Difamação, de Yoav Shamir (Israel / Áustria, 93min)
Viajando entre os EUA, a Polônia, a França, a Cisjordânia e Israel, o cineasta israelense Yoav Shamir pesquisa o sentido e a permanência do conceito de “antissemitismo” no mundo atual. Duas gerações depois do Holocausto, identifica sinais do antigo ódio aos judeus, capazes de serem detetados em comentários de um taxista afro-americanos são mais perseguidos pela polícia. Confrontando posições opostas dentro da própria comunidade judaica, como as de Abe Foxman, dirigente da Liga Anti-Difamação de Nova York, e do professor Norman Finkelstein, o cineasta abre caminhos para ampliar o debate em torno do que realmente significa não esquecer o massacre nazista na II Guerra Mundial. Execelente documentário e super atual, fala de forma sincera e sem meias palavras sobre um tema polêmico.

O Povo Contra George Lucas, de Alexandre O. Phillipe (Estados Unidos, 97 min)
Uma abrangente tentativa de balanço do fenômeno de comunicação do cineasta George Lucas, elevado à categoria de mago do cinema pela criação de “Star Wars” (1977). Teria ele sido engolido por sua criatura? Alguns, como o colega Francis Ford Coppola, acham que sim. A própria idolatria dos milhões de fãs em relação a esta obra, que foi recriada em vários outros formatos, parece dar alguma razão a Coppola. Quando Lucas restaura, com modificações e efeitos especiais, sua trilogia espacial, em 1997, os protestos de parte deste público chegaram às raias da loucura. Afinal, Lucas continua sendo ou não o dono de suas obras? Um filme obrigatório para qualquer estudante de comunicação ou amante da saga. Eu ri durante o filme todo e me diverti muito com o julgamento do Sr. Lucas. Afinal de contas, ele tinha o direito de alterar o que tantos fãs julgavam perfeito?

Separações, de Andrea Seligman Silva (Holanda, 83 min)
Num caminho autobiográfico, a diretora brasileira Andréa Seligmann Silva procura traçar os movimentos imigratórios e emocionais dentro de sua família, de origem europeia. Partindo da recuperação da trajetória de seus avós maternos, judeus alemães que fugiram da perseguição nazista, ela identifica uma negação desse passado que pode ter ligação com um surto nervoso sofrido há alguns anos por sua mãe, uma prestigiada psiquiatra. Ao mesmo tempo, explora os sentimentos contraditórios suscitados pela diáspora ocorrida nesta geração em que, dos cinco irmãos, três moram fora do Brasil. Um filme sincero e leve sobre uma mulher que quer redescobrir sua família. Uma agradável surpresa, indico sem pensar duas vezes.

Para encontrar mais informações sobre o festival, bem como locais de exibição, programação completa e algunas cositas más, acesse o site oficial do festival É Tudo Verdade, clicando aqui. De resto, deixe de lado a idéia de que um filme documental não pode ser divertido e aproveite essa oportunidade de ver filmes excelentes que dificilmente entrarão em cartaz nos cinemas convencionais. Aposto que você não vai se arrepender.

*Publicado no Blog Sem Tédio