O Adorável Teimoso

20.5.10 | comentários: 1
data é 24 de junho de 1990, a seleção era a do Lazaroni, mas foi ali que começou a primeira das três “Era Dunga”.

O treinador brasileiro não deve estar se sentindo desconfortável no momento. Em 1990 foi um dos apontados para carregar uma cruz que não era dele, por 4 anos precisou ouvir em tom de chacota, sobre a “Era Dunga”.


Para falar sobre a seleção de 90, precisamos falar da Copa de 90, a Copa com menor média de gols da história, uma Copa feia, onde poucas coisas se salvaram. Roger Milla e sua seleção de Camarões, Higuita e sua saída bizarra do gol, que acabou tirando a Colômbia do torneio. Maradona e sua convocação à torcida Napolitana para a semi-final contra a Itália, gerando uma frase célebre do Deus do futebol: “Venham torcer pela Argentina, os italianos precisam de vocês agora, agora que o jogo é em Nápoles, depois vocês voltarão a ser chamados de africanos”, numa referência ao preconceito que o povo do Sul sofre na Itália. Enfim, o apelo não funcionou e os Napolitanos ainda vaiaram o hino argentino, numa total ingenuidade, pareciam se esquecer que com aquele homem não se brincava. Era melhor enfrentar o Deus quando o mesmo estivesse calmo, para que ele pudesse ter alguma compaixão.

Voltando ao tema principal desse artigo, temos um acontecimento marcante pós-Copa, a famosa Era Dunga. A Era Dunga era uma forma jocosa que os jornalistas encontraram para debochar da seleção pífia do Lazaroni. Dunga talvez fosse o retrato do anti-futebol brasileiro, a falta de malemolência e malandragem não agradava a ninguém. Era a nossa seleção, ele era trabalhador. Brasileiro tem que ser, acima de tudo, um malandro, uma pessoa que leva vantagem sobre outra em qualquer circustância. Curiosamente, anos depois, Maradona fala sobre a água batizada e BAM, nós brasileiros tomamos uma volta de um bando de argentinos.


4 anos se passaram e por uma obra do destino, Dunga vira o capitão da nossa seleção. Essa sim uma seleção de dar calo nos olhos. Feia e pragmática como o velho Parreira. Rodava a bola de uma forma que o apelido do Zinho poderia facilmente ser dado ao time inteiro. Teríamos a Laranja Mecânica, a Dinamáquina e a Enceradeira Verde e Amarela. Dunga foi perfeito na Copa, o retrato do que foi a seleção, que tinha na dupla de ataque algum resquício de criatividade. Romário empurrava pras redes e isso aliado à aplicação tática foi suficiente. Nascia ali a nova “Era Dunga”, o trabalho magistral de um grupo de homens determinados a ganhar e recolocar o Brasil no cenário mundial, fazendo nossa história de seleção mais vencedora de todos os tempos. O brilhantismo ou a falta dele foi esquecido, o importante era ganhar depois de 24 anos “É tetra, é tetra”.


16 anos depois e Dunga volta à berlinda. A imprensa, em geral, tem sido muito cruel com o nosso treinador, ele caiu ali como um tapa-buraco e de forma genial, fez o que nenhum treinador fazia há muito tempo: montou uma base, decidiu que ia formar um grupo, cujo objetivo seria a Copa de 2010, não importava se diziam que ele sairia depois das Olimpíadas. Dunga ganhou Copa América, Copa das Confederações, bateu o Uruguai no Uruguai e a Argentina na Argentina. Apesar dos empates contra Equador e Bolívia, nos deixou na primeira colocação.

Dunga está mais do que calejado, e como se precisasse de mais exemplos, 2006 cai como uma luva pra essa situação. A seleção ultra-ofensiva do Parreira, aclamada antes do desastre contra a França. Na volta foi taxado de irresponsável, de fazer vista grossa e não ter pulso firme. Se não tivesse levado Adriano e Ronaldo, formando uma seleção mais equilibrada, leríamos sobre a absurda decisão de deixar os craques no Brasil. Considerando que perderíamos para a França de qualquer forma.

O futuro de Dunga está entregue ao resultado. A terceira edição da “Era Dunga” chegará ao final com a Copa. Se ganhar, será o grupo trabalhador, honesto, coerente, de um treinador que peitou todos, para dar uma enorme alegria ao nosso povo e blá blá blá. Se perder, aí coitado dele, terá a cabeça colocada a prêmio, ficará na história por não ter levado o firuleiro Neymar e o craque do Paulista, Ganso.


O que importa é ganhar. Dunga, com sua inteligência de brucutu, sabe muito bem disso. Por isso apostou na mesma forma de trabalho, que vem realizando desde o início do seu projeto, vencedor, diga-se de passagem. Ninguém se importa como for, na hora do título, até os mais românticos vão vibrar. E vão ter que pensar num outro título para seus artigos, diferente de “O homem que matou o futebol arte”.

Escrito pelo colaborador Eduardo Cabral