Dica de Filme: 'Acossado' (À bout de souffle)

30.7.10 | comentários: 0
O surgimento dessa revolução cinematográfica francesa, conhecida pela maioria como nouvelle vague, foi marcada por um nome: Jean-Luc Godard. Esse thriller com boas doses românticas, marcou o início dessa nova geração que ficou marcada na história do cinema mundial. Desde seu primeiro filme na direção, já conseguimos notar o quão talentoso é esse profissional. Um mestre, de fato.

Primeiro filme do consagrado Jean-Luc Godard, e consequentemente, um prelúdio de uma nova geração do cinema francês. Num período de decadência cultural francesa, pós Segunda Guerra Mundial, eis que surgem novos profissionais, jovens, criativos, transgressores do cinema comercial. Em outras palavras, eis que surge a nouvelle vague. Godard, juntamente com outros contestantes, cria uma nova face para o cinema francês. Em seu primeiro filme, Acossado de 1960, o diretor já demonstra o nível do seu trabalho, aguçando a nova geração que surgia naquele momento.

Baseado na obra do seu grande amigo, François Truffaut, Godard cria um filme extremamente atípico da época, abrangendo um perfeccionismo, dentro dos padrões, para cada quesito cinematográfico da sua obra. No mesmo ano de Acossado, grandes diretores exibiam suas notórias obras para o mundo. Dentre esses, podemos ressaltar Psicose do mestre Hitchcock, grande influente do cinema do Godard. O que é mais impressionante é que em seu primeiro filme na direção, o francês conseguiu se colocar ao lado deste grande diretor, com um thriller com doses românticas que revolucionou, até então, o sóbrio cinema francês.

O enredo é basicamente centrado nos personagens de Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg, brilhantemente interpretados. O filme representa a busca de um amor para um coração bruto, sem vida, do salafrário Michel Poiccard (Jean-Paul). Sua personalidade oscila mediante ao encanto da belíssima Patricia Franchini (Jean Seberg), que testa o seu amor, mesmo tendo conhecimento do passado que condena este infeliz e ríspido, ladrão francês. Ao decorrer do seu primeiro longa, Godard lapida o coração do protagonista, nos apresentando um novo Michel Poiccard que fará de tudo pela mulher que está apaixonado.



Seu longa-metragem é marcado por uma filmagem extremamente excêntrica e por vezes instável, marcada pelos movimentos consentidos do corpo. Muitos não aderem à técnica, mas não tem jeito, é brilhante, principalmente por sempre acompanhar, de forma peculiar, os personagens. As atuações se mostram gloriosas, Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg contrastam entre a personalidade rude e a delicada de ambos os personagens, respectivamente. Quando os atores olham diretamente para a câmera e por vezes, falam com o espectador, nos tornamos meros interlocutores meio à presença de Godard na direção.

Um roteiro nada precavido é o que se torna outro ponto interessante de sua obra, afinal, enquanto Godard escrevia as cenas de manhã, a tarde tudo era gravado. Dizia o francês que era, principalmente, pra gerar maior espontaneidade na atuação. Com singelas intenções ou não, Godard fez um belo trabalho. O francês consegue trabalhar em um único ambiente, como por exemplo o quarto da Seberg, de forma supreendente, explorando cada ângulo para ilustrar o diálogo entre os personagens. Definitivamente, um ótimo trabalho, invejável.



Desde seu primeiro filme, o francês já demonstrava o que estava por vir desta nova geração. A nouvelle vague teve muitos nomes, mas não podemos deixar de enaltecer um destes, Jean-Luc Godard. É gratificante para nós espectadores, ainda podermos apreciar os filmes do francês. Por mais que essa tendência de transgredir o cinema comercial venha de muito tempo atrás, dificilmente vemos diretores seguindo esse idealismo. Felizmente, Godard ainda dirige seus filmes de forma espetacular e já fomos presenteados com "Socialism" este ano, filme que muitos aguardam ansiosamente.

Um movimento cinematográfico formado por jovens talentos conseguiu mudar o rumo de uma cultura inteira e mais adiante, do cinema mundial. Por isso, somos gratos aos responsáveis pela nouvelle vague. Jovens talentos, grandes profissionais.


Por Luccas Cigoli Frangella