A Caixa- Parte I

29.8.10 | comentários: 1
Eles eram cinco. Todos estavam muito bem vestidos. Escolheram a melhor mesa do restaurante, a melhor garrafa de vinho, os melhores pratos. Comeram, pouco conversaram e foram embora como se nada tivesse acontecido. Eu estava no restaurante, sentado em uma mesa bem próximo a janela, que me dava uma posição privilegiada em relação a eles e, por isso, pude observar tudo. Enquanto o homem alto e com barba mal feita escolhia os pedidos de todos, o cabeludo colocava a caixa preta, que parecia ser de algum tipo de metal, no chão. Os outros três só vigiavam. Olhavam para todos os lados, desconfiados. Eles, provavelmente, nem notaram que eu estava observando tudo, porque meus óculos têm lentes muito grossas. Já tentei usar lentes de contato por um tempo, mas não me adaptei e, por mais que a tecnologia tente me proporcionar uma melhor aparência, essas lentes, espessura garrafa de coca- cola dos anos 80, é o melhor que consigo com meu oftalmologista. Usando esses óculos, minha auto estima pode não ser a melhor, mas eu enxergo. Eu enxergo bem o suficiente para dizer tudo que eles fizeram e ainda me considerar camuflado, afinal, ninguém confia na visão de um quase cego.

Sempre imaginei que houvesse quem fizesse qualquer coisa por dinheiro. Mas isso é absurdo. Que tipo de lucro alguém pode conseguir acabando com a vida de todas as pessoas? Por mais que eu pense não consigo entender. 17 de março de 2010. Eu me lembro como se fosse hoje. E olhe que sou pessoa de memória bizarra. Lembro dos números sorteados na mega sena acumulada do ano novo de dez anos atrás, mas não lembro o que comi ontem no almoço, por isso, me surpreendo por ser capaz de guardar tantos detalhes. Lembro, inclusive, que aquele era um dia azul, ensolarado, quase sem nuvens no céu.

Naquele dia eu poderia ter escolhido observar qualquer outra pessoa no restaurante, mas aqueles cinco jovens rapazes me chamaram a atenção. E eles nem eram tão interessantes ou diferentes assim. Não saberia explicar o porquê de ter percebido tanta coisa relacionada a eles. Recordo-me até de um “agora sim”, dito por um deles, o que estava de costas para mim, quando atendeu seu celular.

Alguns minutos depois, eu já havia terminado de comer tudo que havia pedido. Já estava prestes a solicitar o tradicional cafezinho, quando observo a caixa preta no chão, próximo aos pés do rapaz cabeludo, e não consigo parar de pensar que havia algo estranho nela. Algo que explicaria os fatos que tanto me atormentam hoje. Por um segundo, desviei o meu olhar da caixa e chamei a atenção do garçom para pedir o café e, quando voltei a observá-la, ela já não estava mais fechada. Estava aberta com a tampa, também, no chão. E não era como se ela tivesse caído porque alguém tropeçou nela. Alguém a destampou. Parecia ser um objeto demasiadamente pesado para que qualquer empurrãozinho derrubasse sua tampa, além de que essa estava muito bem colocada ao lado da caixa, dando a entender que ela foi, propositalmente, destampada por um deles. E eu mal pude terminar de notar a diferença na caixa e já comecei a ouvir barulho de pratos caindo e um som forte vindo de longe.

Não precisei procurar muito para ver o garçom, que olhava para a janela de vidro ao meu lado, havia deixado sua bandeja cair no chão e estava estático no meio do restaurante. Quer dizer não tão parado, visto que ele tremia descontroladamente. Voltei meus olhos para mesa onde estavam os rapazes e eles já não estavam mais lá. Mas a caixa permanecia. De repente as pessoas começaram a gritar e foi então que eu virei para o lado e vi que um objeto em forma de cilindro vinha em direção do restaurante. Todos correram desesperadamente e, diante de tanta confusão, o máximo que eu consegui fazer foi correr para a parte esquerda do estabelecimento.

Não demorou muito e aquela coisa gigante estava quase do meu lado. Escapei por muito pouco de não ser esmagado por ela. Durante alguns segundos, não lembro exatamente quanto tempo, fiquei parado observando-a. Era um objeto que parecia ser feito de metal, mas era mais brilhante. Chegava a incomodar até a quem enxergava mal como eu. Demorei a perceber que minha perna doía graças aos pedaços de vidro, que antes estavam na janela, mas agora habitavam o interior da minha perna esquerda. Mas tive pouco tempo para sentir dor. Comecei a olhar em volta e percebi muitos corpos pelo chão... Tentava achar pulso em uma moça que estava próxima a mim, e ela não tinha. Olhei ao meu redor e todos estavam mortos. Mas ninguém havia sequer tocado no tal objeto. Houve tempo para que as pessoas ao menos se afastassem. Mas eu ainda não estava assustado e com razão, porque o pior ainda estava por vir...

Continua...

P.S.: Eu sei que é sacanagem, mas eu não posso colocar textos longos. Continuação no próximo domingo.