
Donos de uma singularidade inquestionável, os irmãos Coen nos entregam uma produção extremamente peculiar, e por conseguinte, essa marca registrada nos induz a mais um filme espetacular. Escrever sobre um longa-metragem já é uma tarefa difícil, entretanto, quando o filme analisado é dos deles, o desafio toma proporções maiores, porque, entender as ligações e simbologias implícitas no roteiro, e até mesmo a forma no qual o mesmo é conduzido, é um páreo muito duro de vencer.
Mesclando de forma gloriosa o drama e o suspense, os diretores nos presenteiam com um filme que traz consigo, experiências únicas para o espectador, oscilando da frustração à comoção. Mais uma vez, uma produção que faz o público refletir após o seu término, não se restringindo apenas a explosões, assassinatos e perseguições. Em outras palavras, Onde os fracos não têm vez é Coen puro.
Cada filme chama atenção por determinado aspecto em especial, mas este, nos atrai por inúmeros. A premissa consiste numa reação em cadeia, partindo de um ponto inicial: a descoberta de um crime no oeste do Texas, onde um ex-combatente da guerra do Vietnã encontra uma série de corpos, uma caminhonete com carregamento pesado de drogas e uma mala com 2 milhões de dólares.
Como foi dito anteriormente, esses vestígios desse episódio do narcotráfico malsucedido, é marcado por uma reação em cadeia, envolvendo o próprio ex-soldado (Josh Brolin), um psicopata totalmente insano, brilhantemente interpretado pelo espanhol Javier Bardem, e um xerife (Tommy Lee Jones) que não consegue compreender as proporções que a criminalidade se encontra no momento, ao comparar com os últimos anos. Uma premissa muito bem explorada, que consegue alternar o predomínio dos gêneros, o suspense e o drama, com total eficiência.

Já o personagem do Tommy Lee Jones, representa o ideal da mudança de acordo com o meio. Os diretores conseguem desviar a atenção do público focada no ritmo alucinado das perseguições, para o confronto psicológico que este personagem vive. Um drama real que retrata o avanço da criminalidade numa terra onde a autoridade, principalmente, caso não esteja disposta a apostar a alma no ofício, não terá chance alguma.
O título do filme resume a obra por inteiro, e ao término, o espectador nota como a experiência de quase duas horas, pode ser resumida em seis palavras, de forma bem elaborada: Onde os Fracos Não Têm Vez.
O roteiro, premiado no Oscar de 2008, demonstra a qualidade dos irmãos Coen numa adaptação. Seu desenvolvimento é ímpar e muito bem conduzido. Mais uma vez, o desfecho pode ser incompreendido por muitos, mas os diálogos são primordiais para o entendimento do mesmo. As metáforas ressaltam as mudanças do que era e do que é a criminalidade. Algo que tomou proporções incabíveis, e que representa o pensamento ideológico do personagem do Tommy Lee Jones. Impossível não assemelhar essa técnica com os diretores.

Juntar um personagem cruel que por si só já transforma o clima em algo de caráter pesado, e adicionar boas técnicas para aprimorar as sequências, é ter a faca e o queijo na mão.
Por fim, é notório o trabalho dos irmãos Coen em explorar os dois gêneros e fazer com que cada um receba um desenvolvimento pleno e satisfatório. O dilema presente na introdução do filme é trabalhado até o último minuto. Uma obra que não se restringe somente ao que o gênero oferece. Onde os Fracos Não Têm Vez vai além do que é premeditado pelo espectador.
É com mais um grande trabalho, que os diretores expõem seus modos de fazer cinema e enchem os olhos dos amantes da sétima arte, de esperança. Esperança de ter profissionais que deixem de encarar o cinema de forma comercial. Além do mais, no mundo do cinema, enquanto houver grandes nomes, os fracos não terão vez.
Por Luccas Cigoli Frangella
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