Que os mineiros do Pato Fu são especialistas em experimentação nas suas músicas não é surpresa pra ninguém. Seja na variação rítmica [como em ‘Rotomusic de Liquidificapum’] ou ao usar efeitos nas vozes [como em ‘Capetão 66,6 FM’], a ousadia sempre esteve presente nos trabalhos da banda, que, também tem em seu currículo, versões pouco convencionais para sucessos de outros artistas. É o caso, por exemplo, de ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’, de Gilberto Gil ou ‘A Volta do Boêmio’, famosa na voz de Nelson Gonçalves. Ambas gravadas no começo da carreira da banda.
No disco Daqui pro Futuro (2007), o Pato Fu começou a flertar com instrumentos de sonoridade mais infantil, como realejos, caixinhas de música e pianos para crianças. Porém, já no Toda Cura para Todo Mal (2005) era possível observar a tendência ‘fazer música para pessoas com crianças em casa’. Reflexo, sem dúvida, do fato de que quase todos os integrantes da banda se tornaram pais.
Essa tendência atinge seu ápice em Música de Brinquedo, cuja intenção é atingir e apaixonar adultos e crianças. Instrumentos de sonoridade infantil, flauta, xilofone e escaleta, associados a instrumentos de brinquedo. Tudo isso pra dar som a clássicos da música brasileira e internacional. Pra completar, crianças participam fazendo vocais e tocando instrumentos em todas as faixas do disco. E nada de coral infantil. As vozes são totalmente espontâneas, com a desafinação própria das vozes infantis.
Crianças em estúdio com o Pato Fu
Em Música de Brinquedo, escutaremos música de Zé Ramalho, Rita Lee, Roberto e Erasmo, dos Titãs, Elvis... Destaco as faixas ‘Primavera (Vai chuva)’, primeira do disco, pela agradável surpresa das vozes infantis. É quase impossível ouvir as crianças cantando ‘porque é primavera’ e não se pegar com um sorriso bobo no rosto. ‘My Girl’ é outra dessas canções memoráveis. Talvez por causa do filme ‘Meu Primeiro Amor’, ela já seja associada ao universo infantil, a interpretação do Pato Fu completa essa ligação.
Xande Tamietti e sua mini-bateria
O disco agradará a quem se interessar pela parte técnica da música, sem dúvida alguma. Ver o processo de ‘infantilização’ [sem que o termo seja pejorativo, claro] das músicas é encantador, assim como a transformação em instrumentos de coisas que não o eram originalmente. Aos fãs da banda, já acostumados às novidades e experiências a cada trabalho, o disco novo deverá agradar em cheio. Novidade é o que não falta nele.
John Ulhoa e um dos vários instrumentos de brinquedo
Mas ele será inesquecível para crianças e pais [tios, como no meu caso]. Cantar suas músicas preferidas junto com as suas crianças, vê-las curtindo, batendo cabeça ou tentando imitar o vocal das crianças é uma experiência inigualável.
Se, ao lançar Partimpim, Adriana Calcanhoto resgatou o fazer músicas para crianças de maneira inteligente e criativa instrumentalmente, o Pato Fu aprofundou essa estética, aproximando-se de Vinícius de Moraes e Toquinho com sua Arca de Noé. Música de Brinquedo é um daqueles discos que já nascem clássicos.
Se você ainda não ouviu o disco, fique com um aperitivo filmado pela própria banda durante a gravação de Live and Let Die (uma das minhas faixas favoritas), de Paul e Linda Mcartney:
Por Fernando Palhano
comentários: 3
Uma das primeiras coisas que minha sobrinha aprendeu a falar foi algo como "mamã revólvi" em óbvia referência a música do dico Gol de Quem do Pato Fu. haahahahah ela adorava essa música... E o engraçado foi que eu não percebi.
Só me toquei quando minha mãe me disse preu parar de escutar música estranha na frente da menina, ao menos enquanto ela estivesse aprendendo a falar, porque ficava repetindo tudo enquanto é absurdo. Por anos "Mamãe ama é o meu revólver" foi a música preferida dela. E quando aprendeu a ler, uma das primeiras coisas que pediu foi o cardápio (é como ela chama encarte de disco hahaha) dos discos Isopor e Gol de Quem pra ficar cantando junto do Pato Fu. Meu orgulho. hauhauahua
=****
Taty Macoli
Gostei da crítica Fernando.
Não sou admirador do Pato Fu, mas gostei de ousadia do CD.
Confesso que achei bem "Patipitim", inclusive as imagens do show, no entanto tem seu mérito.
Bernardo
Embora a primeira expressão que veio à minha cabeça tenha sido: A-D-O-R-E-I. Achei muito gay comentar isso; tudo bem.
Enfim, o texto é ótimo e o blog, embora aparte-se do termo, é show.
Parabéns Fernando, parabéns galera!
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