Os Mercenários (The Expendables)

5.9.10 | comentários: 0
Desde o momento em que essa produção começou a ganhar forma, pudemos notar que não seria um filme pretensioso, muito pelo contrário. A intenção do ator e diretor Sylvester Stallone, em reunir esse elenco cheio de figuras carimbadas, foi o de resgatar a essência do gênero, que teve o seu ápice nos anos 80, e que exerceu muita influência nos filmes que foram produzidos depois. Quando você faz uma seleção de algo, você prioriza o melhor. E essa foi à intenção do Stallone, ao convocar os atores: Steve Austin, Randy Couture, Dolph Lundgren, Jet Li, Jason Statham, Terry Crews, Mickey Rourke, Bruce Willis e até mesmo, o atual governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Nem todos são grandes expoentes no gênero, entretanto, de uma maneira, o diretor achou que estavam aptos a participar desse festim explosivo. Com isso, notamos que é uma obra que possui um público específico, entretanto, essa limitação não é motivo para amenizar o produto fraco dessa produção. Tiros, explosões e sangue. Fórmula simples que não requer muito esforço para levar o espectador ao cinema, principalmente se o mesmo for um grande amante do gênero.

Com uma estória sem profundidade, retrada nas belas locações brasileiras, Os Mercenários é mais uma produção que não demonstra técnicas aprimoradas para enriquecer o gênero, mas sim, apenas as tipicidades presentes em qualquer filme de ação, mas claro, com doses especiais, devido a ilustre presença do elenco tão idolatrado por grande parte dos espectadores. A temática da produção se resume num grupo de mercenários que recebem uma missão para combater um ditador latino-americano. Com um plano de fundo acessível para Sylvester Stallone comandar uma carnificina de primeira qualidade, Os Mercenários acaba deixando a desejar na profundidade do roteiro, mas que realmente consegue trazer de volta a essência já mencionada. No entanto, mesmo na década de 80, não notávamos uma qualidade significativa em boa parte dos filmes, por isso, conseguiram fazer o que havia sido proposto, com facilidade.
Como foi dito, o fato do roteiro ser extremamente raso, apenas confirma a fragilidade técnica da produção do filme, que obviamente, planejou uma boa diversão que levasse o espectador ao cinema. É interessante notar que os grandes amantes do gênero gostaram muito do que assistiram, além do mais, a produção tem todos os requisitos básicos para agradar, e para dar mais força ao âmbito do filme, temos o elenco. Peça-chave que diferenciou Os Mercenários de um filme comum de ação. Com cenas desnecessárias que estão presentes apenas para inserir mais alguns minutos a mais de pancadaria e tiroteio, notamos que não ocorre uma evolução significativa na estória. O roteiro rasteja meio às explosões e cenas típicas, para entreter o espectador até o minuto final. O que realmente está em jogo, é mostrar o produto desse encontro entre esses grandes nomes. E justamente por causa dessa tentativa exacerbada de agradar o espectador de acordo com a essência oitentista, que Os Mercenários não se torna um filme que agrada todos os tipos de público, mas sim, apenas os apaixonados pelo gênero.

Outra tentativa de promover a obra foi a de criar algo de caráter memorável, em certas cenas. Um bom exemplo seria o tal encontro de Stallone, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger na igreja. Imagino que esses poucos minutos geraram êxtase em boa parte dos espectadores, principalmente por estarem acompanhados das típicas piadas infames presentes nos filmes que consagraram esses atores. Mesmo o público que não é tão apaixonado pelo universo criado pelo gênero, assim como eu, pôde desfrutar desse momento, mas não na mesma intensidade, além do mais, o filme tem um público específico e isso fica nítido desde o começo. Os diálogos fracos e os takes curtos que tentam oferecer maior dinamismo nas cenas, são elementos que já podemos premeditar. Se eu não soubesse o ano que esse filme foi feito, diria que é uma produção da época supracitada, sem dúvida alguma. O que era pra ser considerado como grande mérito passou despercebido por boa parte dos espectadores, que apreciaram apenas mais um filme de ação, com um elenco diferente reunido. A brasileira Gisele Itié tem uma boa atuação, se destacando mais do que os outros, em algumas cenas. Sua presença não foi em vão, felizmente.

Como diversão descompromissada, Os Mercenários cumpre o esperado. No entanto, o filme poderia ter aproveitado muito mais, principalmente certas peças do elenco, que foram escaladas apenas para fortificar o peso da produção. Mickey Rourke é um bom exemplo. Não esperava uma qualidade extremamente significativa, mas a falta de compromisso em tentar expandir o público-alvo, chega a incomodar. Com todas as peculiaridades possíveis presentes, o ator e diretor Sylvester Stallone perde a oportunidade de aprimorar o gênero, criando uma mera diversão. Com uma fórmula rudimentar, mas que funcionou mais uma vez, pelo menos para alguns, Os Mercenários relembra a época e não passa disso. Que desperdício.

Por Luccas Cigoli Frangella