[Inquilino]Coisas do Futebol

17.5.10 | comentários: 1
Este texto faz parte da nossa sessão "Inquilino" e é de inteira responsabilidade do autor do texto.


O Texto a seguir é referente ao jogo de Semi-final da Copa do Brasil (Grêmio 4 X 3 Santos) e ao jogo de Quartas-de-final da Taça Libertadores da América (Cruzeiro 0 X 2 São Paulo), ambos no dia 12/05/10.


Em algum lugar do Brasil, toca o telefone na casa de um Jorge qualquer...

- Alô?
- Te acordei, Jorge?
- Não. Não, Carlos! Tô só com sono. O que é que manda?
- Tu viste o jogo do Grêmio contra o Santos?
- Vi sim. Bom jogo. Por quê? Algum problema?
- Na verdade: alívio! Depois da divulgação oficial da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo, sabe? Reparei que muitas pessoas se lamentaram pela não convocação do Paulo Henrique, o “Ganso”. Daí fiquei preocupado. Só eu não estou envolvido pelo futebol desse menino?
- Nunca te vi tão preocupado com o que os outros pensam, Carlão.
- Pois é. Tu me conheces bem, né? Mas decidi ver o jogo assim mesmo e cheguei à conclusão de que não existem motivos para preocupação. Então liguei pra ti pra saber se concordas comigo.
- Você sabe que pensamos parecido, não é?
- Sinceramente, Jorge, não consigo vislumbrar esse menino vestindo uma camisa amarelinha na Copa. Ainda bem, né? Que ele ficou de fora? Até que ele conseguiria um ou dois lances interessantes. Mas ele não tem o que esse time precisa. Tem certa altura, mas não tem a força física necessária. É franzino, coitado. É esforçado, é verdade, mas não daria conta de uma marcação mais forte. E nem marca tanto assim. Ele tem vontade e um pouco de qualidade, mas não são suficientes.
- Carlos ainda existem duas coisas que certamente foram notadas por você. Tanto o Ganso está com o físico em dia, quero dizer, sem lesões, quanto é titular em seu clube.
- Exatamente, Jorge! Exatamente! Minha preferência é por aqueles desacreditados. Um jogador machucado ou reserva em seu clube pode render mais. Veja bem, os craques argentinos e portugueses estão se destacando com um futebol razoável. Com certeza o mundo está de olho neles. A pressão e a atenção que esses jogadores terão podem atrapalhar. E isso pode não acontecer com o nosso Brasil.
- É mesmo, não é Carlos? Ninguém pensa assim.
- Pois é. O que o Mundo esperará de jogadores que estão mal fisicamente, que são reservas ou que jogam em posições diferentes em seus clubes? E outra, o Santos foi campeão do Paulistão e está bem na Copa do Brasil. Mas para mim não conta. A grande chance desse “Ganso” foi na seleção Sub-20. E ele não correspondeu. O que importa é a canarinho, mesmo que seja na categoria de base, e não um estadual. Esses craques brasileiros que vão à Copa vão surpreender. Se o Ganso fosse relacionado, todo o Mundo olharia diferente, a marcação seria outra. Qualquer talento que ele venha a ter viraria pragmatismo. Nesse caso, mais vale os reservas ou desacreditados na Europa que alguns titulares no Brasil.
- Salve a exceção do Robinho, não é?
- Isso mesmo! Aliás, o Robinho foi o melhor em campo e... Estás bem, Jorge? Não tens falado tanto, só concordas...
- Tudo bem sim, Carlos, não se preocupe. Minha função é essa, sou seu amigo. E como tal, tenho que apoiá-lo sempre, independente de qualquer coisa.
- Então só me resta rezar para que na Copa nosso time jogue como a Internazionale jogou contra o Barca: só melhorando um pouco o contra-ataque. Mas a idéia é essa. Todo mundo ajudando na marcação. Equipe solidária. Você acha que eu estou errado, Jorge?
- Não. Concordo com tudo o que você diz. Você não deve temer por suas escolhas, Carlos. Lembre-se que você tem um apelido que, embora você o tenha por outro motivo, lhe caiu bem pelo que você é. O significado desse apelido traduz você: excepcional, incomparável, poderoso, influente, o cabeça. O que você diz, está dito.
- Jorge, quando você aceitou trabalhar comigo, me auxiliando, achei que teríamos desavenças. Mas me enganei. Nós somos iguais. Agora vou desligar. Ah, esqueci, viu que partidas fizeram o Kleberson pelo Flamengo e o Gilberto pelo Cruzeiro? Estou muito orgulhoso. Boa noite, Jorge.
- Boa noite, Carlos.

O telefone foi desligado. Nesse momento, cada um em sua casa, Carlos e Jorge foram para seus respectivos quartos para deitarem com suas respectivas esposas. Um feliz e o outro triste.
Os eventos a seguir ocorreram simultaneamente. (Ler alternadamente).
Casa de Carlos
- Ainda acordada, amor?
- E dá para dormir quando você fala de futebol, Carlos?

Casa de Jorge
- Ainda acordada amor?
- E dá para dormir quando você fala de futebol, Jorge?

Casa de Carlos
- Desculpa. Era o Jorge no telefone. Estávamos falando do nosso time.
- E essa cara?
- Nada especial. Só estou feliz em descobrir que nos enganamos com as pessoas.

Casa de Jorge
Desculpa. Era o Carlos no telefone. Estávamos falando do nosso time.
- E essa cara?
- Nada especial. Só não estou feliz em descobrir que nos enganamos com as pessoas.

Casa de Carlos
- E tu falas de quem?
- Do Jorge. Sabe amor, ele tentou e conseguiu mudar minha opinião.
- E qual é sua opinião?
- Que somos iguais!

Casa de Jorge
- De quem você está falando?
- De mim. Sabe amor, já cansei de tentar mudar a opinião dele.
- E qual é a opinião dele?
- Que somos iguais!


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Escrito por João Victor Wanderley de Souza
Aluno de Rádio e TV da UFRN