"Coringa" e "Batman- Cacofonia"

10.6.10 | comentários: 0

Acho que nenhum outro vilão teve tantas interpretações memoráveis e HQs quanto o Coringa. Nas melhores histórias do Batman, ele quase sempre é destaque. Recentemente, li dois especiais que só aumentam esses números e o fascínio do público pela personagem: Coringa e Batman – Cacofonia.

Coringa é escrita por Brian Azzarello (100 Balas) e desenhada por Lee Bermejo (que alterna a arte-final com Mike Gray). Na história, ele é finalmente é liberado do Asilo Arkham. Quem vai buscá-lo é um bandido pé de chinelo chamado Johnny Frost, por quem o palhaço acaba criando certa simpatia. Após descobrir que seu reino foi dominado por velhos aliados, o Coringa quer dar o troco, se reerguer e mostrar por que todos devem temê-lo. O enredo é narrado por Johnny, no melhor estilo noir, e esse é um campo que Azzarello domina. O Coringa dele é mais aberração do que palhaço, mais psicopata do que engraçado. Lembra muito o interpretado por Heath Ledger no cinema, inclusive nas feições.A equipe de arte é fantástica, algumas páginas se aproximam muito de pinturas realistas e outras têm traços tão escuros que causam o devido impacto no leitor. 

Duas cenas me chamaram atenção: um Coringa deprimido e frágil nos braços da Arlequina e quando ele invade a casa de um casal de idosos para matá-los. Nessa última, Johnny pergunta “Quem são essas pessoas?” e o Coringa responde “Quem liga?”. Completamente insano.

Batman – Cacofonia apresenta um novo vilão determinado a matar o Homem Morcego. A primeira ação dele é libertar o Coringa do Arkham pra distrair o herói. 

A trama é bem despretensiosa, longe de ser algo original. Então o que a torna especial? O final. Todas as ações e diálogos dos personagens foram muito bem orquestrados, convencendo-nos da verdadeira essência de cada um deles. Batman sempre justo e reflexivo, o Coringa completamente inconseqüente e amoral, chegando a não se importar em ser sodomizado. E isso tudo conduz o leitor a um ótimo final, onde Batman e Coringa têm uma conversa sã (talvez a única), graças ao palhaço estar dopado por medicamentos.

A edição é escrita pelo cineasta Kevin Smith (Dogma, O Balconista) e desenhada por Walt Flanagam. Smith já havia provado ser um bom escritor de quadrinhos com a excelente Diabo da Guarda, um dos melhores arcos do Demolidor. Seus diálogos são inteligentes e provocantes. Infelizmente, os desenhos de Flanagan não funcionam, são fracos e desproporcionais. Parece-me que ele só conseguiu o trabalho por ser amigo de Smith.


As capas são de Adam Kubert e Bill Sienkiewicz, que usam apenas preto, branco e vermelho, criando uma atmosfera perfeita para a trama. Pena não serem o s desenhistas da série. E ambas foram publicadas no Brasil pela Panini Comics.

Por Fábio Dantas