Nunca tinha ouvido falar em Avatar. E quando eu digo nunca, não é exagero do tipo: vi o desenho quando mudava o canal. É nunca mesmo. Ano passado, começam os comentários sobre o Avatar de James Cameron. Taty Macoli [que escreveu comentário pra quem já conhecia o desenho] me falou logo sobre a disputa judicial que envolvia o uso do nome - comum aos projetos - e, como boa fã de Shyamalan, a última, talvez, torcia por ele. Não deu. Cameron ganhou o direito de usar o nome e restou ao Shyamalan ‘The Last Airbender’. O título pode até não ser o que ele queria, afinal, é baseado em uma obra chamada Avatar. Mas ‘O Último Mestre do Ar’ cai até melhor que o da ideia original [‘The Last Airbender’ é subtítulo do desenho e, literalmente, seria algo como ‘O Último Dobrador do Ar’].
A partir daí, eu fiquei com vontade de vê-lo. Uma vontade despretensiosa, movida apenas pela minha simpatia pelas coisas marginais [o filme que não pôde usar o nome que tinha e o diretor que vem sendo cada vez mais hostilizado]. Além de não conhecer o desenho, não sou fã do diretor. Nem ‘O Sexto Sentido’ eu vi, pasmem. A minha despretensão só foi abalada depois da estreia: todos os críticos falaram mal. Não sobrou um que dissesse que o filme era bonzinho. Shyamalan terminou de enterrar sua carreira, diziam. No fim das contas, fui porque sou um bom amigo. Taty Macoli pediu minha companhia como presente de aniversário. Não fosse isso e eu teria esperado ele chegar milagrosamente ao meu computador e tentaria convencê-la a ver outro filme.
Vou ao cinema com medo e ‘O Último Mestre do Ar’ me surpreendeu bastante. Positivamente. A história é muito boa, com elementos fantásticos que não devem nada a um ‘Crônicas de Nárnia’, por exemplo. Os efeitos especiais belíssimos poderiam servir de aula pra quem fez cenas de manipulação de fogo em ‘O Aprendiz de Feiticeiro’. Os cenários são incríveis. Destaque para os Templos do Ar e para a Cidade da Água do Norte. As cenas de luta também são bem interessantes, destaque para Aang e Zuko – lutando lado-a-lado ou se enfrentando.
Tem seus problemas, óbvio. O filme não seria achincalhado [gostou do termo?] em vão. Algumas atuações são problemáticas: Jackson Rathbone [Sokka], Nicola Peltz [Katara] e Seychelle Gabriel [Princesa Yue] são bem ruinzinhos. A última é ruim de doer. Mas a participação dela é tão mínima que não chega a comprometer o filme. Mesmo quando o diretor insiste em dar closes no casal [ponto negativo, Shyamalan], a atuação ruim não chega a comprometer.
Fiquei com a impressão que foram cortadas cenas em que Katara fazia trapalhadas ao tentar comandar a água. Quando eles chegam à primeira cidade da tribo da Terra, ela acaba prendendo Sokka, ao invés dos soldados que deveria atacar. Depois disso, não tem mais oportunidade de se atrapalhar. Tem a limitação de tempo do filme e tal. Mas poderia não ter feito a primeira vez: não haveria problema em ser presos de outra forma.
A limitação de tempo traz outro problema: as histórias de Aang e Zuko são contadas em um misto de flashback e narração que poderiam ter sido feitas de forma diferente. O fato de que eu vi o filme dublado podem afetar essa percepção, mas não creio que, nesses momentos, o áudio original teria feito tanta diferença.
Mas nada disso supera o maior defeito do filme: não parece em nada com o que se espera de M. Night Shyamalan. É triste ver que todo mundo julga a carreira do cara por causa de ‘O Sexto Sentido’ e dão o rótulo de fracasso a qualquer coisa que não seja isso.
Por falar em tristeza, eu saí triste do cinema. Vou perder continuação da história, o desenvolvimento dos personagens, a aproximação de Zuko e Aang [porque eles vão se aproximar, né?]. Porque o filme que deveria, não vai vender muito. Paciência. Vou me contentar baixando o desenho pra ver.
Há algum tempo falou-se por aqui sobre o ‘Avatar’ que merecia ser visto. Depois de hoje, não tenho dúvidas. Se me oferecessem uma segunda sessão do filme de Cameron e do filme de Shyamalan, entraria na sala de ‘O Último Mestre do Ar’ sem sombra de dúvida.
Escrito por Fernando Palhano
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