A Origem (Inception), novo filme de Christopher Nolan, mostra Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão de informações, habituado a executar seus golpes dentro do consciente humano, que aceita um último trabalho em troca de ter sua antiga vida de volta. Um trabalho que não consiste em um roubo, mas na inserção de uma idéia que pode mudar as vidas de sua vítima e de seu contratado.
O filme é de um brilhantismo tão superior que não ouso me estender em sua sinopse. Não quero ser o culpado por estragar qualquer surpresa que o leitor venha a ter ao assistir o filme. Caso o leitor já o tenha assistido, entenderá perfeitamente essa minha atitude.
Já nas primeiras cenas podemos ver a objetividade de Nolan. O filme já começa em grande estilo com uma ótima cena de “boas-vindas”. Uma produção impecável com efeitos de alta qualidade. Na seqüência, vemos pela primeira vez no filme a utilização da Câmera Lenta. Durante toda a obra, o diretor usa desse recurso com uma maestria que transforma outras obras que utilizaram tal artifício em meros ensaios para a grande apresentação. É como se A Origem reinventasse a idéia de Câmera Lenta, provocando uma plasticidade à cena bem mais acentuada que em outros trabalhos como em Lost, que utilizava esse artifício em quase todos seus episódios, ou mesmo em Matrix.
A produção do filme é de deixar muita gente desnorteada. As seqüências de ação transportam o espectador para bem próximo da realidade do filme como se transformasse a idéia deste em algo crível. A fotografia e os cenários de alta qualidade sustentam a grandeza dessa obra juntamente de uma trilha impecável. Destaque para as seqüências que acontecem dentro de um ambiente sem gravidade.
Trabalhando mais uma vez com Christopher Nolan, Hans Zimmer (Sherlock Holmes) mostra que é um dos maiores compositores da história do cinema. Com uma trilha que se assemelha à do último Batman (que também é dele), Zimmer mostra um trabalho mais que funcional, quando não emocionando, deixando em frangalhos os nervos de quem assiste ao filme. Sempre pontual, a música dita o ritmo deixando-nos cada vez mais tensos e mais eufóricos.
O elenco é um atrativo à parte. Leonardo DiCaprio comanda um time de atores entrosados e em sintonia com as suas e com as demais personagens. Ken Watanabe como Saito, Joseph Gordon-Levitt como Arthur e Tom Hardy como Eames demonstram toda uma química como a equipe do personagem de DiCaprio. Marion Cotillard como Mal é a ponte entre o lado profissional e o pessoal do personagem central da trama. Cillian Murphy, como Robert Fischer, pode ser o que muitos considerariam o “ponto fraco” do elenco com uma atuação mais discreta. Porém, acredito que ele acertou em cheio na essência da personagem. Embora tenha um rosto talhado para o caricato, Murphy fugiu da caricatura acertando na medida as características típicas de um homem de negócios que quer se mostrar apto para assumir os negócios do pai.
Um destaque especial para Michael Caine e Ellen Page. O primeiro por marcar presença em mais um filme de Nolan, o quarto desde Batman Begins, e a segunda por sua firmeza na interpretação. Page, apesar da mesma cara de menina, deixa de lado aquele estigma de Juno que a fez concorrer a um Oscar para dar lugar a Ariadne, uma estudante que tem a oportunidade do “trabalho ideal” ao se juntar a Cobb e sua equipe. Embora seja uma personagem que não exige tanto, essa talentosa atriz mostra sua capacidade compondo uma coadjuvante que jamais ultrapassa os limites de seu papel. Sempre importante quando em cena e jamais se pondo acima ou abaixo de qualquer outro em cena. Se fazendo sempre presente, como os grandes atores fazem independente da importância do papel que interpretam.
Vale ressaltar que Ariadne funciona como um espelho da platéia. Sempre que acontece algo importante no filme, ela entra em cena fazendo as perguntas que o público se faz. Até nisso o filme se mostra perfeito. Os pontos mais fortes de A Origem são o roteiro e a direção. Esses dois elementos coexistem através da grande estrela da produção: Christopher Nolan.
Assinado pelo diretor, o roteiro traz uma trama complexa e muito bem elaborada que se desenvolve no subconsciente humano. Nolan conseguiu criar um mundo em sua cabeça que está totalmente interligado com o que é mostrado na tela. Uma perfeita sintonia entre a teoria de seu texto e a praticidade de suas cenas. Trama e ação. A história é de uma densidade única e de uma profundidade tão excepcional que até as cenas mais absurdas fazem todo o sentido dentro do contexto da obra. Diferente de muitos Blockbusters, A Origem não mostra um 'pretexto' para suas cenas super elaboradas, mas 'contexto' para cada ato no desenrolar da história.
A direção é de um primor invejável. Cada plano, cada cena, cada ângulo perfeitamente dissecado por Christopher Nolan parecem obras surrealistas em movimento. A edição é tão eficiente que toda a complicação do enredo parece inexistente. É mais fácil entender o filme que tentar explicá-lo.
Poucas vezes fiquei tão eufórico no cinema por causa de um filme. Depois de Batman – O Cavaleiro das Trevas eu era capaz de apostar que não passaria por isso novamente tão cedo. A Origem me provou estar errado (graças a Deus!!!). Minhas mãos nunca suaram tanto e nunca um filme conseguiu me deixar com câimbra nas pernas. Sim, nas duas pernas! A Origem conseguiu isso nas vezes que vi o filme.
É muito difícil fazer qualquer crítica sobre qualquer coisa. Principalmente quando tenho o azar de tentar criticar um filme como este. Azar porque não existe a possibilidade de imparcialidade da minha parte. Estou totalmente vendido. Tentar falar qualquer coisa sobre esse espetáculo sem proporções que não sejam elogios atrás de elogios seria tentar o imponderável. Seria tentar atingir o inatingível.
Este texto faz parte da nossa sessão "Inquilino" e é de inteira responsabilidade do autor do texto. Quer contribuir com o Não eh um Blog? Descubra como clicando aqui. =)
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Escrito por João Victor Wanderley de Souza
Aluno de Rádio e TV da UFRN
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