A Caixa- Parte II

5.9.10 | comentários: 0
Se chegou aqui agora, leia a primeira parte do texto aqui.


Saí de lá imediatamente para buscar ajuda. Tentava correr, mas a perna não ajudava. Olhava ao redor e tudo estava morto. Tudo mesmo. As árvores também estavam secas e cachorros mortos estavam espalhados pelas ruas. Eu não conseguia encontrar vida em qualquer lugar que passasse.

Depois de uma hora de caminhada, percebi a chegada de carros da polícia e ambulâncias. Respirei, aliviado, e esperei que chegassem até mim. Contei tudo que tinha visto. Pedi ajuda. Uma mulher vestida com roupa azul disse que eu estava em choque, que não sabia o que dizia. Colocaram-me em um carro e levaram- me para o hospital. Eu adormeci e quando acordei, rezei para que tudo tivesse sido um sonho ruim. Mas a dor na minha perna não me deixou levar o sonho adiante. Chamei por ajuda. E logo me informaram que eu era o único sobrevivente do que chamavam de “acidente”. Eu estava só em um quarto imenso. Não parecia um hospital normal. Era muito grande para isso. Eles disseram que tudo que se aproxima daquele perímetro morre. E que precisam fazer alguns testes em mim para saber por que só eu consegui sobreviver.

Os exames começaram. Alguns bem invasivos, mas como eu sabia que era verdade, afinal, eu vivi aquele horror, eu deixei que fizessem todos sem reclamar. Queria ajudar de alguma forma. Algumas horas se passaram e o homem sério que havia me explicado tudo mais cedo retornou ao hospital e disse que precisávamos ser mais ágeis com os testes. Os médicos se indignaram e disseram que estavam fazendo tudo o que podiam. Eu perguntei se ainda havia esperança de encontrar pessoas vivas naquela área. Mas ele disse que não e ainda completou dizendo que seja lá o que for que tenha contaminado aquele lugar, está se espalhando.

O local onde eu fui socorrido já está contaminado. Mais pessoas morreram e nem os corpos conseguiram resgatar para analisar. Tudo que chega perto morre, quase que instantaneamente. Eles estão evacuando tudo o mais rápido que podem, mas até onde esse vírus, praga, ou seja lá o que isso for, pode chegar? Por que eu ainda estou vivo?

Eu soube através da TV que mandaram pessoas para lá com roupas de proteção. E mesmo essas morreram. As ruas estão em caos. Com pessoas fugindo sem saber pra onde. E eu aguardo que um helicóptero venha me tirar desse hospital para outro, porque aqui em breve estará contaminado.

Dez dias se passaram. Eu não sei bem onde estou, mas ainda tenho segurança. Muita gente já morreu. Já tentaram explodir aquela coisa de diversas formas. De mísseis teleguiados a robôs com bombas poderosíssimas. E nada. Nenhum resultado. Utilizando robôs conseguimos ter imagens do local e, para o nosso espanto, não há o menor arranhão no objeto não identificado. Todas as dezenas de testes que fizeram comigo deram resultados normais. Não há nada de muito certo ou muito errado comigo.

Há alguns dias eu era só um contador, sem grande importância para a humanidade. Hoje sou pior. Sou um elefante branco em mundo falido. Mas graças a uma dessas imagens do local que assisti há pouco, uma ideia me surgiu... Não sei porque não pensei nisso antes. Tenho certeza que ninguém acredita em mim quando digo que tudo tem a ver com a tal caixa que foi destampada pelos homens nunca encontrados. Mas as autoridades não têm mais nada a perder e, por isso, vão me dar essa chance. Amanhã, ao menos para mim, tudo vai mudar. Não sei se tive sorte, ou se realmente sou imune, mas, apesar dos meus constantes pesadelos com o dia do “acidente”, eu voltarei até lá e procurarei a caixa e quem sabe assim ainda teremos alguma chance.