Escrever aqui não é nada fácil. Primeiro que você tem que selecionar o que é engraçado na sua vida a ponto de merecer destaque em uma seção que se chama “Minha Vida é um Sitcom”. Depois, e no meu caso isso é importantíssimo, tem que anotar coisas engraçadas que acontecem se não os casos passam pela memória e você não lembrará nunca mais. Por fim, os assuntos precisam passar pelo crivo do bom senso. Não tenho tanta certeza se “bom senso” é o termo. Esse negócio de nomes, por exemplo. É sempre complicado decidir quando um nome estranho pode vir parar aqui sem que isso signifique magoar ou ofender alguém.
Esta mesma coluna já falou sobre nomes e eles tiveram que ser trocados pra não mexer com os brios de ninguém. E aí eu me pergunto: é justo que nós tenhamos que nos censurar e perder a possibilidade de um texto engraçado por causa de algum tipo de problema que as pessoas tenham para admitir que têm nomes estranhos?
Certas famílias têm algumas tradições estranhas com relações a nomes. E gente, estamos todos sujeitos a isso. Não é exclusividade sua, caro amigo de nome estranho. A minha família mesmo. Vejamos: meu avô materno se chamava João. Minha avó, Nísia. Quando a minha mãe nasceu eles resolveram fazer o que eu chamo de auto-elogio e colocaram o nome dela Joanise. Isso mesmo. O nome não existe. Não conheço nenhuma outra Joanise no mundo. A pobre da minha mãe sofreu muito antes de aceitar o nome que tinha.
Isso fez com que ela não colocasse nomes inventados em nenhum dos filhos. Em compensação, tinha mania de nomes duplos. E aí saímos Fernando Luiz, Luiz Eduardo e Isabel Regina. Isso mesmo: eu sou Luiz, meu irmão é Luiz. Não para aí: meu pai também é Luiz. Por sorte, o único que é realmente chamado de Luiz é o meu pai. Não gera confusão quando o telefone toca. Já estudei com uma Tereza cuja mãe e irmã também se chamavam assim. Era muito comum ouvir histórias de quem ligava pra lá e pedia pra falar com Tereza e tinha que ouvir do outro lado: qual delas?
O caso mais clássico desse tipo de tradição é um Hélio, irmão de outro Hélio e filhos de um terceiro Hélio. O nome da mãe? Não, não é Hélia. Mas por muito pouco. É Célia.
Tudo isso pra falar de um cidadão que conheci outro dia. Na família paterna dele havia a tradição de colocar nomes terminados em “er”. Daí podem sair coisas como Élder e Válter, por exemplo, mas também podem sair nomes que simplesmente não existiam. O cidadão em questão já faz parte da segunda geração da família “er”. A mãe engravidou e quis botar o nome do filho de Eduardo. O pai, muito sábio, preferiu continuar a tradição familiar. Mas Eduarder não ia ficar um nome legal. Mais uma vez, a intervenção providencial do pai: fã de Steve Wonder, por que não colocar Edwonder? A mãe não deixou. Acabou ficando Eduander. Muito melhor agora, não?
Pra completar, em uma carteira de estudante antiga, no lugar do “U” veio um “W”. E os amigos passaram a chamá-lo Edvander. Aqui pra nós, se você se chamasse Eduander, faria questão de piorar as coisas trocando letras no seu nome? Eu me apresentaria a todo mundo como Edu e ponto. Edu o quê? Eduardo? Não, não... só Edu. Mas não se preocupe, Edu, Eduander, Edwander, ou como você queira ser chamado. Você não está só. Muita gente tem nomes estranhos. E, no fim das contas, muito obrigado por me contar sua história pra que ela pudesse ser repartida com todos nós. Um abraço.
Por Fernando Palhano
comentários: 2
Só pra constar, sou eu o Hélio, irmão de Hélio e filho de Hélio e da quase Hélio (Célia). hahahhaahahhahah Ô VeRRRRgonha.
Muito bom o texto!
Conheço uma família exemplar (e espero que eles não leiam esse blog ou que o Google não me denuncie):
Pai: Maurício André. Até aí tudo bem... Nome duplo que não combinou, mas aceitável. Então, por que não repassar a tradição da duplicidade para as filhas? E foi aí que nasceram Adriana Patrícia e Gabriela Cristina. Belíssimas combinações, não é verdade? E onde está a cereja do bolo? Na carteira de identidade da mulher de Maurício André e mãe de Adriana Patrícia e Gabriela Cristina: VANICLEIDE. Conjecturar sobre a origem dessa alcunha levaria tempo o bastante para que nos arrependêssemos de ter entrado nessa história. Pelo menos não resolveram juntar os dois, né? Imaginem uma Mauricleide pelo mundo. Que horror!
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